EDIÇÃO EXTRAORDINÁRIA DE HOJE, SEXTA FEIRA,DIA 28 DE NOVEMBRO DE 2008
QUERIDOS AMIGOS, QUERIDAS AMIGAS
Sem querer cair no lugar comum, a UECE e a educação, em todos os níveis, está mais pobre. Eu ousaria mais: está paupérrima. Perdemos o Professor Jayme Alencar,
Conhecemos Jayme na remota década de 1960 quando ingressamos no Lyceu do Ceará. Sucedendo o carismático o querido Manuel Aguiar de Arruda, depois presidente da UEE, Carlos Augusto "Parangaba" e o rouquenho Sebastião Roque Barros, Jayme já se afirmava como lider e iniciava, naquele secular Lyceu de tantas glórias, como um batalhador das grandes causas da educação e de seus atores, os sofridos e vilipendiados professores do ensino fundamental e médio.
Reencontramo-nos na APLEC (Associação de Professores Licenciados do Estado do Ceará), de honrada memória. A APLEC tornou-se o bastião de jovens e idealistas professores. Entre eles pontificaram o saudoso Benito Melo, o resistente e teimoso Marcondes Rosa, o diplomata Manuel Aguiar de Arruda entre outros. Ingressamos na APLEC como sócios aspirantes. E lá, com o apoio dos professores acima citados, destronamos uma diretoria conservadora e refratária às mudanças. A APLEC funcionava na FAFICE, atual Centro de Humanidades. Depois a truculência da ditadura cassou nossa entidade.
Em 1967 organizamos a primeira greve pós golpe militar no Ceará. A APEOC da época, conservadora e até reacionária, não nos apoiou mas, a APLEC nos deu ampla cobertura. A greve trouxe como conseqüência a queda do Secretario de Educação, prof Lucio Melo mas, assegurou-nos o pagamento de alguns meses que estavam atrasados. No projeto do PNE, havia atrasos superiores a oito meses. Pagaram 3 meses.
Relembro um episódio já narrado no blog. Um noite fomos, Jayme e eu falar no Telejornal Crasa, sobre a greve. Falei primeiro, com a voz mansa mas fui incisivo. A seguir o Jayme falou. Começou a se empolgar. E foi evoluindo. Já quase sem respirar deu aquela ênfase especial ao seu protesto.
De repente, olhei para o monitor e tinha entrado um comercial de panelas ou coisa que o valha. Augusto Borges, o apresentador, ainda estava perplexo sem saber o que tinha acontecido. Por via das dúvidas saimos do estúdio. No amplo corredor encontramos um Oliveira Ramos esbaforido que nos advertiu: "O general telefonou. O problema não foi o que você falou. Foi a maneira enfática como falou. O General mandou tirar vocês do ar." Que belo exemplo de liberdade de manifestação. Censura feita ao vivo pelo general em um órgão de comunicação.
Reencontrei Jayme na luta pela contratação dos concursados de 1983 da UECE. Após a sua contratação assumimos a coordenação do movimento. Foi ele o pioneiro. Aprendemos com ele a enfrentar a burocracia as perseguições políticas contra os dissidentes de 68. Quase todos foram contratados. E esses professores, hoje em final de carreira, devem seu emprego também ao Jayme Alencar. Precisam lembrá-lo em suas preces.
Morre um semeador de utopias. Jayme sonhou um mundo melhor para a educação e seus atores, os professores. Em todos os níveis. Jaime Alencar junta-se hoje aos 169 colegas que sairam do cenário sem que o governo do estado lhes tenha assegurado aquilo que, por direito, foi determinado pelo Supremo Tribunal do Federal.
Parte um professor, fica a lembrança, a legenda, o mito.
Vai em paz batalhador. Daqui a pouco estaremos juntos outra vez, em Assembléia Geral, em outra dimensão onde a mesquinhez, a perseguição, a insensibilidade e a crueldade deste e de outros governos não mais nos atingirá porque seremos imbatíveis, imortais.
Um grande abraço de seu colega do Lyceu, da APLEC, das greves em defesa da dignidade da categoria, da moralização do ingresso na UECE, do respeito ao concurso público de 1983, da luta insana e permanente pelo PISO SALARIAL.
A gente se encontra a qualquer hora
Um abraço fraterno
Gilberto TELMO
Leia mais sobre Jayme Alencar clicando sobre seu nome.
Maiores informações sobre o local do velório no blog de Eliomar Lima. (clique sobre o nome Eliomar Lima para acessá-lo)
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