É uma afirmativa que está na boca de todos. Agora, a interrogação: será mesmo verdade? Não seria melhor dizer que a justiça é cega para uns e não para outros, ou melhor, a justiça é caolha?
Este modo de ver a justiça vem comprovado por fatos e mais fatos do nosso dia-a-dia. Quando o reclamante é o governo ou são os poderosos, ela é cega para não enxergar os crimes cometidos e as injustiças praticadas por eles e dar-lhes razão mesmo sem a terem.
Será uma afirmação leviana e desrespeitosa? Não.
Os fatos a comprovam e como dizem os latinos: Contra facta non sunt argumenta – Contra fatos não há argumentos. Os fatos estão aí a mancheia. O poder executivo está podre. Quantos membros do executivo com processos de improbidade administrativa! O legislativo e o judiciário não ficam atrás.
Em determinados momentos, ela é cega; em outros, vidente, isto é, adivinha até o que vai acontecer no futuro.
Um caso tupiniquim que mostra a cegueira da justiça. Há 22 anos, o Sindicato dos Professores - SINDESP – vem com uma causa na justiça em favor do piso salarial concedido à classe pelo então governador Luís Gonzaga Mota e retirado da folha de pagamento por Tasso Jereissati porque, dizia ele, era inconstitucional.
Outro fato comprova a vidência da justiça. Um profissional deixou, mercê das dificuldades, de pagar a um destes conselhos regionais, não sei de quê nem para que servem, sua mensalidade que, supostamente, deveria ser para garantir o exercício da profissão, batalhar pelos direitos da classe e defendê-los para não serem surripiados pelo governo ou pelos atravessadores como costuma acontecer com certas cooperativas que sugam o honorário dos profissionais e não para financiar a vida nababesca dos que fazem a diretoria. Então surge o impasse: faltou-lhes dinheiro para a orgia. Agora?
Imediatamente, essa diretoria vai à Justiça Federal reclamar o numerário que lhe está fazendo falta. A Justiça Federal, de pronto, qual o Pai dos Deuses, do seu trono olímpico, vem, intima o réu e o comina até com a penhora de seus bens para garantir a minguada dívida. Nesses casos está-se num estado de direito. Aqui a justiça não é cega. Ela enxerga e até demais.
Onde o princípio constitucional de que “todos são iguais perante a lei?” Foi para o espaço e o nosso estado de direito é uma mentira. Rasgue-se, pois, a constituição.
Muitos casos conhecidos mostram que a justiça é caolha. São inúmeros e dariam para livros e mais livros e não só estes dois escolhidos que fazem o assunto deste artigo.
A escultura da deusa Têmis, sentada em sua cadeira gestatória, não só no Olimpo como também na Praça dos Três Poderes, deveria ser representada de pé e em movimento e sem venda para ter mobilidade e visão para atender as justas reclamações, enxergar os desmandos de todos, sem exceção, e exercer sua missão que é dar a cada um o que lhe é de direito.
Prof. Cajuaz - aposentado da UECE, do CEFET e diretor da APESC
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