Recordando o grande fabulista brasileiro, cujo nome real é Júlio Cesar de Mello e Souza
Há muitos anos eu li, num jornal carioca, um interessantíssimo conto de Malba Tahan o nosso grande fabulista, autor de “Mil histórias sem fim”, “Aventuras do Rei Baribê”, “A caixa do futuro” e “O homem que calculava”. Era a história de um famoso físico que procurava, em sua residência, um também famoso entomologista. Este distraía-se com seus insetos, quando o físico chegou e pediu a sua atenção para um problema que estava deixando perplexa toda uma equipe científica.
Tratava-se do vôo do besouro. Segundo explicou o pesquisador, o besouro era um animal de formato anti-aerodinâmico, pesadão. Suas asas eram frágeis e, em princípio, não poderiam sustentar aquele corpanzil no vôo. Para piorar a situação, o coleóptero estava guarnecido de diversos apêndices incômodos, que só poderiam dificultar e mesmo impedir o deslocamento aéreo. Eram antenas, pinças, patas desajeitadas.
Para fazer a comprovação definitiva, construíram uma aeronave com a forma e as proporções do inseto, apenas em tamanho maior, e a experimentaram no túnel de provas. O artefato se espatifou todo.
Assim, concluía o espantado sábio, estava definitivamente provado, cientificamente, matematicamente, que o besouro era um ser incapaz de voar. E, no entanto, para escândalo da Ciência, o besouro voava. Sim, ele voava descaradamente, na frente dos cientistas...
E o pobre físico, em último recurso, vinha perguntar ao especialista em insetos se ele, ao menos, teria algum meio de elucidar o mistério.
Este sorriu complacentemente e explicou ao colega, mais ou menos nesses termos, já que estou resumindo de memória:
— Meu amigo, não há mistério algum. É tudo muito simples. O besouro voa, apesar de tudo o que o senhor falou, porque ele não sabe dessas coisas! Sim, porque se ele soubesse eu garanto que não sairia do chão.
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