“Alguns minutos de sua atenção”???
Sr. René Barreira e Sra. Silvana Parente.
A carta fotocopiada que recebemos dos senhores quer dizer o seguinte: voltem para a sala de aula, porque daqui a quatro anos, se vocês ainda estiverem vivos, irão ter o salário miserável que recebem agora, dobrado. Salário bruto, vale salientar! Em alguns minutos pude perceber que os senhores secretários estão a nos informar o que já sabíamos: o arrastado e difícil processo de negociação entre professores e os governos estaduais, para que nós possamos ter condições dignas de existência e de exercício da docência nas universidades públicas. Indago: se os senhores se vangloriam do “feito inédito” do Governador, no primeiro dia de trabalho, ter recebido os nossos representantes, porque a nossa categoria precisou, mais uma vez, entrar em greve? A “Mesa de Negociação” tem sido mesa, só mesa, sem negociação. Não há cessão por parte dos que nos receberam pois os que nos receberam, apenas cumpriram formalmente o ritual de nos receber. Os senhores leram o artigo do Prof. Mourão, da Profa. Adísia Sá? Agora eu recebo uma carta, na minha casa, para me informar da promessa que não foi cumprida: ABONO, não é cumprimento de promessa, tampouco a proposta estapafúrdia de 100% em quatro anos. As nossas carências, as da sociedade cearense, portanto as das universidades públicas, não se iniciaram no primeiro dia de trabalho do Governador do Estado, no dia 02 de janeiro! A atual proposta é um abraço de náufrago, pois os senhores que agora governam, embrenhados nos governos passados, continuam o mesmo processo de aniquilamento e desprezo planejado do espaço público do saber, da ciência, da cultura. Que tal se os senhores além de visitarem os campi universitários, explicassem-nos o porquê dos processos internos de privatização da UECE, através de cursos de pós-graduação pagos, convênios com institutos, países, que formam uma verdadeira teia de venalidade entranhada nas nossas instituições públicas? E o mais grave, senhores secretários, já que os senhores sabem quanto iremos ganhar, o nosso endereço, o nosso nome, porque não deram uma palavra sequer sobre a decisão do Supremo Tribunal Federal, que nos deu ganho de causa, (nós ganhamos e o Estado que vocês secretariam perdeu) explicando-nos o porquê de até agora terem postergado a reimplantação do piso salarial? Os senhores devem saber que decisão do STF não se negocia, cumpre-se. Ao lado da Mesa de Negociação, sugiro ser criada uma Mesa de Execução, a obrigar a que os senhores que secretariam o Governo do Estado, aprendam a cumprir a Lei, sem subterfúgios legalistas, sem cessões de favorecimentos políticos, sem interesses privados sobrepondo-se aos fins públicos, sem a cínica façanha protelatória. Ainda quero saber mais, senhores secretários: alguns professores estão na causa do piso, outros não. Eu quero todos os meus direitos, sem qualquer disjuntiva: ganhei o piso e tenho direito ao PCCV. Não vou abrir mão de qualquer direito, não vou assinar qualquer papel, abrindo mão de um direito para ter o outro reconhecido. Tenho direito a ambos. E os professores que estão no PCCV, uma vez o piso reimplantado, haverá mais outra batalha. Querem saber mais, senhores secretários? Assim como os senhores nos conclamam à suspensão da greve, nós os conclamamos a pagarem o nosso piso e a acatarem a proposta do PCCV da nossa categoria! Entramos em greve por ter havido a suspensão unilateral das negociações, por parte do governo do Estado. Agora os senhores têm certeza de que se retornarmos às aulas, as negociações serão retomadas. Bela falácia de raciocínio! Se os senhores verdadeiramente estivessem empenhados na defesa das universidades públicas estaduais pagariam imediatamente o que já estão obrigados a pagar: o piso salarial e os 130% em dois anos! A valer mesmo, merecemos os 130% também para já !!! O apelo a alguns minutos da minha atenção pareceu-me uma inoportuna expressão de puro cinismo burocrático, como se nós não estivéssemos durante anos a fio, com as nossas vidas e atenção absolutamente voltadas para as universidades públicas e para as contínuas rasteiras que os governos estaduais nos têm dado. Mas a elas temos sobrevivido, mais amadurecidos e mais cientes do grandioso papel que exercemos na nossa cultura. Mantemos vivificadas as universidades públicas estaduais, apesar do próprio Governo do Estado. A verdade é index sui, e nos tem ensinado a superar tanto as barreiras dos enganos, quanto a reconhecer os parentes dos falseamentos.
Senhores secretários, informem ao senhor Governador, que se o Governo do Estado quer o retorno imediato às aulas, é simples: que ele imediatamente pague o PCCV, conforme a nossa proposta e cumpra imediatamente a sentença do Supremo Tribunal Federal de reimplantar o piso salarial!
Sylvia Leão
Filosofia - UECE
http://www.opovo.com.br/opovo/opiniao/752296.html
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