O Diário do Nordeste, em janeiro deste ano de 2009, publicou, numa página inteira, propaganda de shows com artistas nacionais,patrocinados pelo Governo do Estado do Ceará ,durante as férias, nos quatro cantos do Estado.
Não sou contra festas, mas o momento que vivemos não é próprio para tanta prodigalidade com o dinheiro público. Existem prioridades e decisões judiciais a serem cumpridas.
Essa propaganda jornalística fez-me lembrar um verso de Juvenal, poeta latino, que serviu de título para este artiguete: Panem et Circenses – Pão e circo.
Qual a relação do verso latino com a propaganda de festas do Governo do Estado do Ceará?
Para o poeta Juvenal, o povo romano, possuidor de soldados valentes, suporte do poder de Roma,agora, fragilizado, só quer alimentação e diversão.O imperador Tibério afirmava também que o povo é governado, sobretudo, com “ annona et spectaculis ” – comida e espetáculos.
Essa expressão, por analogia, passou a ser o jargão de governos,marcados pela demagogia barata, que pretendem deixar o povo na extrema ignorância e sem condições de raciocinar, ficando felizes, simplesmente, com a satisfação das necessidades materiais de alimentação e de divertimento também necessário para viver.
É useiro e vezeiro dizer-se que o Ceará é um Estado pobre. Será? Parece que sim, pois, se verificarmos os serviços públicos, ficaremos envergonhados, sentiremos essa pobreza , teremos até compaixão e ficaremos pensando naqueles velhos tempos em que se dizia que o Ceará vivia de pires na mão,lá,em Brasília,pedindo esmolas.Será que esse tempo não passou? Por que essa pergunta? Vejamos os fatos.
Um olhar de relance para a educação, para a saúde e para a segurança pública mostra-nos o descalabro e o desprezo do Governo por esses setores Será pobreza mesmo, desinteresse ou má vontade ? Desinteresse e má vontade achamos que não,pois os homens públicos não podem ser movidos por esses sentimentos (sic). É, de fato, pobreza . Agora,uma dúvida crucial: Por que a pobreza só aparece nesses setores, enquanto em outros a prodigalidade é imensa? Então, começamos a compreender, em algumas situações, determinadas posições do Governador para proteger o erário público,mas em outras, bastante perdulário. Por quê?
Para a implantação do piso salarial dos professores do Ensino Fundamental e Médio do Estado, Lei Federal, e dos da Universidade Estadual do Ceará, decisão do Supremo Tribunal Federal, a dificuldade é tamanha que parece sadismo, da parte do Governo, ver aqueles, que fazem também a máquina estatal andar, não usufruírem de um direito líquido e certo que lhes foi garantido pela Suprema Corte de Justiça do País.
Surge,então,a desculpa esfarrapada: o Estado não dispõe de recursos. Pobreza. Ainda estamos com o pires na mão.Até quando ? Só um exemplo. Há muitos outros e de muitas outras categorias que vivem idêntica situação.Quando vamos deixar de pedir esmolas para cumprimento da Justiça ? A pobreza evangélica não é a ausência do essencial para se viver.
Outras interrogações nos atormentam:Quanto se gastou com a propaganda tão exagerada nos jornais e nas televisões para um evento que não necessita de tanto alarde. Não interessa saber.Para isso não somos pobres. Riqueza. Panem et Circenses.
Quanto se gastará com a contratação de artistas, bandas e não o sei que mais? Não importa. Riqueza. Panem et Circenses.
Os gastos do Estado que a revista Veja põe a nu, em uma reportagem, mostram o desperdício do nosso dinheiro.Só essa despesa daria para pagar quase todos os precatórios com a implantação do piso.Não é exagero. Nada a declarar. Riqueza. Panem et Circenses.
É difícil administrar um Estado pobre, (sic) mas, se, no planejamento, forem colocadas prioridades sem demagogia, tudo caminhará sobre os trilhos,haverá justiça, não haverá o problema da dicotomia pobreza x riqueza e agradará a gregos e troianos.
Prof.José Cajuaz Filho
Um comentário:
Caro Telmo,o texto do professor Cajuaz põe às claras a prodigalidade com que governantes e asseclas dilapidam o patrimônio público em detrimento da aplicação de políticas públicas, visando ao engrandecimento do povo desse país do carnaval.
Enquanto se contratam artistas de renome para narcotizar consciências e promover a ampla descerebração à grande turba de zumbis analfabetos, nós, presumivelmente pequena ala pensante, posamos de pierrot e arlequim,ferida nos seus brios porque as leis neste país nada mais são que papéis bordados com tintas. As leis, nesse país de contrastes, assemelham-se à máscara (persona)com que dialoga a raposa de Fedro: muito bonitas, mas sem nenhuma vida.
Com efeito, quem compulsa os códex de nosso malbaratado ordenamento jurídico, sobremaneira a Constituição Federal, rende-se à verdade mendaz de que pouco adiantam comentários de juristas de escol acerca de seu espírito; de que as leis infraconstitucionais são meros pastiches de uma mentira convencional que se apregoa aos quatro ventos, mas são anódinas, cretinóides e perversas.
Carta Política sobre a qual tripudiam políticos inescrupulosos,cujo cumprimento se envia para as calendas gregas, não deve receber o galardão de guardiã do decantado Estado Democrático de Direito ou da vilipendiada dignidade humana, princípios sempre invocados pela verborragia diarréica dos que se dizem detentores dos poderes. Ora, às favas... Que se apliquem as leis concretamente!!!
Onde anda a OAB nessas horas? Onde se escondem os legitimados para propor ações contra governantes que, na sua perversa empáfia, arrostam a determinação legal do cumprimento de decisões judiciais, sob pena de respoderem por crime responsabilidade?
Não perco as esperanças de que alcancemos resultado exitoso nessa odisséia, pois bem sei que os senhores são como que o grupo de Tebas, combatendo sob a sombra negra e nefasta do discurso malévolo de governantes e sequazes.
Um dia a vitória chegará, malgrado os ventos negros e as ameaças veladas de nos deixarem a ver navios no mar proceloso de mentiras, sofismas e insensibilidade.
Um abraço forte para você, extensivo a todos os demais companheiros...
Francisco Hugo Barroso Martins Júnior
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