EDIÇÃO DE HOJE, QUARTA- FEIRA, DIA 24 DE NOVEMBRO DE 2021
QUERIDOS AMIGOS, QUERIDAS AMIGAS
QUALQUER SEMELHANÇA COM FATOS REAIS NÃO SERÁ MERA COINCIDÊNCIA
Reflexão a propósito de manifestações recentes de colegas da ação PISO SALARIAL.
HISTÓRIAS DE GRATIDÃO E INGRATIDÃO
Gilberto Telmo Sidney
Marques
Em tempos já muito distantes, em um país longínquo, havia um bárbaro costume consagrado. Quando as pessoas envelheciam eram levadas à floresta e lá abandonadas para morrerem de fome. Cabia ao primogênito levar o pai para essa viagem sem volta.
Certa feita, um jovem
acompanhou seu pobre pai a essa sina desumana. Preocupado, entregou-lhe uma
manta para que se protegesse do frio da floresta. O velho, olhos tristes e voz
embargada indagou à despedida:
-
Tens aí uma faca?
-
Para que queres uma faca ? Retrucou o filho.
-
Para recortar um pedaço desta manta que ficará contigo quando teu filho te vier
trazer para este lugar.
Sufocado pelo remorso, o
filho tomou de volta o velho pai, levou-o para casa e passou a tratá-lo com
carinho. E lá ele permaneceu até o fim de seus dias.
E conta a história que,
daquele dia em diante, nunca mais ninguém levou o próprio pai para abandonar na
floresta.
Sendo uma qualidade inata a
gratidão deveria ser a primeira de todas as virtudes. Até os outros animais
sabem ser gratos.
Conta a fábula que certa noite chovia copiosamente na floresta, ribombavam trovões e os relâmpagos e coriscos riscavam os céus. As criaturas de Deus procuravam seus abrigos. Um pequeno vagalume estava sendo arrastado pelas águas e tentava, inutilmente, resistir à borrasca. De repente, surgido não se sabe de onde, um passarinho pousou sobre ele, recolheu-o, transportou-o para lugar seguro e protegeu-o com suas asas até o fim do temporal, salvado-o da morte certa.
Dias depois, nos seus voos noturnos, o vagalume escutou os gemidos de um passarinho. Aproximou-se e reconheceu seu salvador. Ele tinha uma das patas presa nos espinhos de um arbusto. O vagalume acendeu sua lanterna e esperou até que o passarinho pudesse se livrar do incômodo espinho. Materializava-se, no gesto simples, a maior de todas as lições: a gratidão.
A gratidão se faz presente nas atitudes mais modestas. No abanar da cauda de um cão. Em um olhar de reconhecimento. Não carece de palavras. Não impõe pagamento. Só atitudes. Gratidão não é subserviência. Não significa avassalamento, servidão, inferiorização. Não é um dever ou uma imposição. É um ato de nobreza, de decência, de dignidade.
A ingratidão, pelo contrário, é uma manifestação ignóbil de brutalidade. Uma demonstração de recalque. Um sentimento rasteiro de degradação e de insensibilidade. É a quintessência da crueldade. A síndrome de uma consciência atormentada.
A ingratidão fere
profundamente. E dói. Desestimula. Agride. Desencanta. Desacredita. Avilta. É
cruel. É sádica. É cínica. É desumana.
A prática da ingratidão
desumaniza, embrutece. Produz remorsos e semeia a infelicidade.
(publicado no jornal O POVO
de 07.04.1996 com o título HISTÓRIA DE GRATIDÃO E INGRATIDÃO).
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