EDIÇÃO DE HOJE,DOMINGO, DIA 24 DE ABRIL DE 2022
QUERIDOS AMIGOS, QUERIDAS AMIGAS
Familiares do professor Paulo Rouquayrol acabam de nos informar sobre o falecimeento do querido professor Paulo Alber Rouquayrol ocorrido hoje em sua residência, de causas naturais.
Estamos aguardando informações sobre o velório e o sepultamento para socializá-las através do blog e das redes sociais facebook e twitter e whatsapp.
PERFIL DE PAULO ROUQUAYROL.
manifestação nossa publicada no facebook há alguns dias, por ocasião de de seus 90 anos taçam um esboço do seu perfil. Leiamos:
No dia 09 de dezembro de 2021 o professor Paulo Auber
Rouquayrol, o pai dos cursos superiores de química no Ceará, completou 90 anos.
Rouquayrol foi um ícone da química orgânica formador
de muitas gerações de químicos e bioquímicos e até de médicos em cujo currículo
antigamente constava a disciplina Química Orgânica.
Há cerca de 20 anos, na oportunidade de seus 70 anos, quando teve a sua aposentadoria compulsória (ou expulsória) decretada na UECE, permitiram-me ler a saudação abaixo:
Deveria deixar
as palavras fluírem ditadas pelo coração. Não conseguiria. Sirvo-me da
linguagem escrita. Quero, na condição de ex-aluno do velho Lyceu de tantas
glórias, saudar o mestre.
Recordo o professor Paulo Rouquayrol lecionando Química Orgânica na 2ª 2ª da manhã e Físico-Química na 3ª 2ª da noite. Há algum tempo ele confirmava que ainda se lembrava de mim envergando o velho jaquetão cáqui de mangas azuis do Lyceu do Ceará. No Lyceu o jovem Rouquayrol com seu porte eslavo, nórdico ou europeu, a sua voz de locutor de rádio, impressionava muito mais pelo domínio da matéria e a organização do quadro onde uma letra bem desenhada registrava fundamentos da química orgânica e infinitas cadeias acíclicas e cíclicas, homogêneas e heterogêneas todas saturadas de competente conteúdo.
Sério e
exigente deixou certa feita o Lyceu à noite, pela saída de emergência (portão
dos fundos) depois de um dia inteiro de apreensão ante a ameaça de morte por
parte de um aluno que fora reprovado.
Depois
deixou o próprio Lyceu por não aceitar, em dois anos consecutivos, a aprovação
e a promoção, via secretaria ou direção, quem sabe, de um aluno que não lograra
êxito na disciplina de química que ele ministrava.
Já tive a
oportunidade de confidenciar-lhe que foi ele o culpado da minha escolha pela
profissão de professor de química, abraçada afinal depois de tantos
descaminhos. Diga-se de passagem, que naquela época não existia curso de
Química em Fortaleza. O Instituto de Química só seria criado em 1965, com a
participação de Paulo Rouquayrol, pioneiro dos cursos de químicada UFC e da
UECE.
Reencontramos
nos Institutos Básicos da UECE em 1967 nas disciplinas de Química Orgânica I e
II. Lá a militância política me afastou praticamente da sala de aula, mas mesmo
assim, nos aproximamos mais e acompanhei seu esforço para manter funcionando o
laboratório de química orgânica muitas vezes assumindo a compra de gás
liquefeito e de equipamentos como termômetros, pipetas e outros.
Em um dos
seus NPCs cuja temática era o estudo de mecanismos de reação, um colega do
curso de Farmácia que não estava preparado, utilizou um artifício genial. Fez
toda a prova em versos, discorrendo sobre todas as funções da Química Orgânica.
E buscou desesperadamente uma rima para o nome do mestre. Terminou a prova com
esta pérola de construção poética:
“Eu já ia me
esquecendo
E uma
injustiça cometendo
Por que não
falar no fenol
E
aproveitar a oportunidade
Para
homenagear de verdade
O meu amigo
Rouquayrol?”
A
inspiração do aluno o salvou. Sensibilizado o professor Rouquayrol não teve
como não aproveitar alguma coisa do poeta improvisador.
Reencontrei
Rouquayrol, alguns anos depois, na banca do concurso que me fez ingressar na
UECE. Saudou-me com entusiasmo e concedeu-me a deferência de sortear o ponto da
prova escrita. Caiu álcoois.
Nossas
relações nem sempre foram tranquilas. Mal-entendidos não lograram turvar a
minha admiração pela sua competência, pela sua integridade, sobretudo, pela sua
dedicação à UECE. Acompanhei a sua luta pelo laboratório de química, a sua
presença no CEPE e no CONSU onde fomos conselheiros, o seu voto favorável e
corajoso pela criação da Faculdade de Quixadá, enfrentando a má vontade
reinante e a ação solerte de inimigos declarados ou sub-reptícios da
interiorização da UECE.
Depois
disso levei-o a Quixadá para conhecer de perto a Faculdade que ele ajudou a
oficializar e a sobreviver.
Em quatro
empreitadas estivemos juntos: no concurso público para professores efetivos da
Unidade Tauá (CECITEC) do qual ele foi coordenador geral e que ocorreu de
maneira irreprochável, na avaliação institucional da UECE, na manutenção do
impraticável campus avançado de Pentecoste de onde foi coordenador e na
elaboração de um livro de Práticas de Química sob a coordenação do prof. Fábio
Castelo Branco e com a parceria as professoras Nadja Sales e Conceição
Liberato. O livro Práticas de Química, esgotado após 3 edições e recebeu o selo
do CNPq que adquiriu 600 exemplares para a distribuição entre professores das escolas
públicas do Ceará. O professor Rouquayrol nunca utilizou a
prerrogativa de chefe de departamento para reduzir sua carga horária ou se
ausentar da sala de aula, ministrando até dezoito horas semanais.
Não conheço
nenhum caso de em que o Dr. Paulo tenha se recusado a participar de comissões e
de executar trabalhos, os mais diversos, para os quais foi designado pela UECE.
Mesmo aposentado continuou preparado alunos para o mestrado da UFC e de outras
IES.
Acompanhei de perto a sua luta obstinada por
concurso público para professores de química nos últimos anos de sua
permanência na chefia do departamento de química.
Tem sido
característica sua questionar e defender de forma apaixonada seus princípios e
seus pontos de vista. Alguém pode até discordar de sua forma apaixonada, mas
ser ou estar apaixonado não é um defeito, é uma qualidade já ausente daqueles
que não acreditam na importância da profissão que escolheram para exercer.
Paixão na defesa de princípios é virtude. E paixão ele tem de sobra ainda
lúcido no alto de seus profícuos setenta anos.
Exemplo para as novas gerações que, contagiadas pelo pessimismo, adotam o discurso
nihilista, negam a Universidade, praguejam contra tudo e contra todos, expõem
ranços e rancores, mascarando a sua própria indolência, o seu descompromisso, a
mal disfarçada incompetência de construir. Rouquayrol não se limitou a
amaldiçoar a escuridão. Acendeu uma vela
e, com a sua coragem e sinceridade, afirmou em palavras, gestos e
atitudes firmes o que preconiza o dístico inspirado do brasão da UECE: “Lumen
ad viam” (Luz no caminho, segundo os que sabem latim) Acendeu uma vela,
percorreu desassombradamente o caminho sinuoso e íngreme que tendem a trilhar
os verdadeiros educadores, iluminando-o para que muitas gerações possam
percorrê-lo com mais segurança, mais conforto e sobretudo com mais esperança.
Parabéns
querido mestre! Muito obrigado pelo seu grandioso legado! Deus o proteja e
livre de todos os males.
De se eterno aluno
Gilberto TELMO Sidney Marques
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