O RÁBULA DE CATOLÉ DOS MACACOS, EXEMPLO DE CORAGEM E HONRADEZ

EDIÇÃO DE HOJE, SÁBADO, DIA 25 DE FEVEREIRO DE 2012

QUERIDOS AMIGOS, QUERIDAS AMIGAS

Enquanto o PISO SALARIAL não é implantado vamos contar a história edificante do rábula de Catolé dos Macacos que não se submeteu às ordens do chefe e não aceitou compensações financeiras para perseguir funcionários públicos. Dignidade não se compra nas faculdades de direito, de medicina, etc.Leiamos:

O RÁBULA DE CATOLÉ DOS MACACOS

Catolé dos Macacos é um município de três mil almas localizado em alguma região remota do país. Ali não existem serviços de água e esgotos,  internet, telefonia e poucas habitações urbanas possuem energia elétrica. 

Imaginemos uma praça grande com uma Igreja antiga chamada de matriz, sem pároco, e umas poucas ruas de chão batido. Os equipamentos de saúde são um ambulatório em ruínas e sem equipamentos, uma ambulância  quebrada  e uma novíssima do SAMU cuja bateria e os pneus foram roubados, impossibilitando assim seu funcionamento. Médico, só uma vez por mês. Detém um dos maiores índices de analfabetismo e está no ranking mundial como um dos piores IDHs do planeta. 

É a terra onde o cão perdeu as botas, o vento faz a curva, candeeiro dá choque, abandonada por Deus. Sua principal fonte de renda é a grande produção de coco catolé. A origem do nome está associada aos cocos e também à grande quantidade de macacos, espécie extinta, consumida pela população, ao longo dos anos de seca e miséria.

Pois bem, em que pese a miséria reinante, a cidade tem prefeito, sete vereadores, secretaria de saúde, secretaria de educação, secretaria de obras, secretaria de finanças e alguns departamentos que completam a máquina administrativa ocupada em seus escalões superiores, via de regra, por parentes do prefeito e dos vereadores da situação e cerca de duzentos humildes funcionários públicos municipais, entre eles trinta professores. Nenhum desses servidores ganhava mais que meio salário mínimo por mês.

O município vive da exportação de coco catolé, do Fundo de Participação dos Municípios e dos recursos do FUNDEF.Em outros tempos o prefeito era um pequeno produtor de abóbora e e coco catolé. Agora mudou de profissão é político. Tem casa na capital onde seus filhos estudam, um Sentra,uma Hilux, etc. Mas nas suas viagens utiliza somente as viaturas da prefeitura, estas sim, em bom estado.

Os funcionários mais humildes, como já dissemos,   percebem menos que a metade de um salário mínimo e estão submetidos a longos períodos de atraso nos vencimentos. Premidos pelo desespero os funcionários entraram em greve, cobrando além do atrasado, um reajuste que lhes garantisse pelo menos um salário mínimo. Resultado:  foram sumariamente demitidos. Recorreram à justiça.

O prefeito então procurou um rábula, que também era professor da única escola municipal, para “defender a causa da prefeitura”.

O rábula foi conduzido à presença do prefeito de maneira constrangedora por um de seus sabujos. O prefeito lhe fez uma proposta tentadora de nomeá-lo procurador do município, um bom salário e muitas mordomias se ele aceitasse a incumbência.

Colhido de surpresa, o rábula de sólidos princípios, refletiu como o Operário em Construção de Vinicius de Morais. E percebeu que os demitidos eram iguais a ele no infortúnio, na miséria, na desesperança. Que, como ele passavam fome, sofriam humilhações, a miséria batendo-lhes à porta.  

E, como no poema de Vinicius,  o rábula  disse não.E foi a nova vítima do prefeito. Na sua retaliação insana o prefeito tirou seu emprego municipal.

Competente e corajoso, o rábula foi à justiça para defender seus iguais e a si próprio. Muitos anos se passaram, muitos agravos, muitos embargos. Muita fome passaram os servidores. Até que,vinte anos depois a justiça acordo e se impôs. 

O final da história: a questão foi ganha no Supremo Tribunal Federal. O prefeito foi cassado por improbidade. E todos os funcionários perseguidos ficaram a partir de então menos infelizes.

Moral da história: mais vale um rábula honrado que muitos bacharéis que tentam desmoralizar a justiça e transformar juízes, desembargadores e ministros das cortes superiores em imbecis.

A justiça sempre vencerá a truculência. A força do direito vencerá o “direito” da força.

Aos lacaios e subservientes: No julgamento de Nurenberg muitos carrascos tentaram se safar das punições alegando que cumpriam "ordens superiores". A Corte não aceitou o argumento simplório. Todos foram punidos!!!
Saboreemos o poema de Vinicius na interpretação do inesquecível Taiguara.]